Saude

Dor persistente: é hora de procurar um médico?



Mais da metade dos brasileiros só busca atendimento médico diante de quadros graves, apontam pesquisas

Viver com dor não é normal, mas boa parte dos brasileiros age como se fosse. De acordo com uma pesquisa realizada em 2024 pelo Grupo Bradesco Seguros em parceria com o Instituto Locomotiva, mais de 50% dos entrevistados afirmaram só procurar atendimento médico quando enfrentam sintomas considerados graves. 

Entre os homens, esse percentual sobe para 60%. Apenas 43% das pessoas afirmam realizar consultas periódicas e preventivas. Os dados foram coletados por meio do Indicador de Longevidade Pessoal (ILP), metodologia que avalia como a saúde física, a saúde mental e as interações sociais contribuem para uma vida mais longa.

A negligência com a saúde reflete um comportamento enraizado, como mostra o levantamento “Saúde do Brasileiro – 2023”, feito pela Hibou: 45% da população ignora sintomas de dor antes de buscar ajuda profissional. Entre as causas para esse comportamento estão a falta de acesso, a automedicação e a crença de que a dor vai passar com o tempo.

 

Fatores como idade, histórico de saúde e  presença de sintomas persistentes determinam     o momento de procurar ajuda médica. No caso da especialidade de pediatria, a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é clara: quanto mais jovem a criança, mais frequente deve ser o acompanhamento.

Dor persistente

Ainda de acordo com a SBP, bebês entre 5 e 30 dias devem ser avaliados até três vezes por mês. De dois a seis meses, a consulta deve ser mensal. A partir dos sete meses até os dois anos, a recomendação é de uma visita a cada dois meses. Depois disso, a frequência pode diminuir: de dois a seis anos, uma consulta a cada trimestre; e dos sete aos 18 anos, uma vez ao ano costuma ser suficiente para monitorar o desenvolvimento e prevenir doenças.

 

Já em adultos, os cuidados variam conforme o perfil de saúde. O médico Michael R. Wasserman, em artigo no Manual de Saúde, reforça que todos devem manter visitas regulares ao clínico geral, dentista e oftalmologista. Mulheres também devem seguir com os exames ginecológicos de rotina.

 

A frequência ideal das consultas pode ser definida com o médico de referência, considerando fatores como idade, estilo de vida e presença de doenças crônicas. Pessoas com diabetes, hipertensão ou histórico familiar de doenças cardíacas exigem um acompanhamento mais próximo, o que inclui check-ups frequentes e exames complementares.

Diagnóstico precoce pode salvar vidas

Adiar a ida ao médico é um comportamento comum, mas que pode custar caro à saúde. Muitas doenças exigem diagnóstico precoce para aumentar as chances de recuperação, e o câncer é um dos exemplos mais urgentes. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), entre 2023 e 2025, o Brasil deve registrar 71.730 novos casos de câncer de próstata. 

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Apesar da alta incidência, muitos homens só procuram ajuda quando os sintomas já estão avançados. Saber como identificar o câncer de próstata ainda nos estágios iniciais pode fazer toda a diferença. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) reforça que o diagnóstico precoce está ligado ao sucesso do tratamento. 

 

Os principais sinais de alerta incluem dificuldade para urinar, diminuição do jato urinário e aumento da frequência urinária, especialmente durante a noite. Para homens com fatores de risco – como histórico familiar ou obesidade – a recomendação é iniciar os exames de rastreamento a partir dos 45 anos, conforme a SBCO.

 

Mas a atenção à dor não se resume a doenças graves. Muitas vezes, a persistência de um incômodo pode ser o primeiro sinal de que algo não vai bem. De acordo com o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos (ELSI-Brasil), financiado pelo Ministério da Saúde, 37% dos brasileiros com mais de 50 anos convivem com dor crônica. 

 

O problema é mais comum entre mulheres, pessoas com menor renda e pacientes com histórico de artrite, dores nas costas, depressão ou hospitalizações frequentes. A dor crônica não é apenas um sintoma físico – ela afeta a qualidade de vida e o bem-estar emocional. Por isso, o tratamento deve ir além de medicamentos. 

 

A International Association for the Study of Pain (IASP) recomenda uma abordagem multidisciplinar, que inclua profissionais de saúde mental, como psicólogos ou psiquiatras, além dos médicos especialistas. Afinal, o sofrimento físico e emocional costuma caminhar lado a lado, exigindo um cuidado integral.

Relatos que revelam um padrão preocupante

Os dados se refletem na vida real. Pamela Alves, de 26 anos, conviveu por mais de um mês com dores intensas no abdome antes de procurar ajuda médica. “Fui ao pronto-socorro, fizeram alguns exames e me encaminharam para um ginecologista. Mas, como não tenho plano de saúde, acabei adiando a consulta. Fiquei só com o remédio que aliviou a dor na hora”, relembra.

 

A experiência de Jayme Simão, 61, também é marcada pela espera. Ele começou a sentir dor e inchaço no joelho e levou três meses até obter um diagnóstico. “Não conseguia apoiar a perna no chão. Fui em três ortopedistas particulares e paguei mais de R$600 em exames. Cada médico dizia uma coisa”, relata. Apenas recentemente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conseguiu ser diagnosticado com artrose em grau avançado. “Agora estou fazendo fisioterapia e aguardando a cirurgia.”

 

Essas histórias se repetem em todo o país e mostram como a demora no diagnóstico não é apenas uma questão de escolha, mas também de acesso. Enquanto 60% dos mais ricos se dizem satisfeitos com seu atendimento de saúde, entre a população geral essa taxa cai para 40%, segundo o estudo do Bradesco Seguros.





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