Logo após o nascimento, a primeira preocupação de mães e pais é a saúde do bebê. Durante esse período, é possível que o pediatra ou urologista pediatra responsável identifique uma criptorquidia, ou testículos não descidos.
É comum que pais fiquem preocupados ao ouvir que o recém-nascido apresenta uma malformação anatômica. No entanto, queremos frisar que o problema é bastante comum e não é considerado grave. Em muitos casos, ele sequer precisa de cirurgia para ser resolvido!
Entenda mais sobre a doença no artigo abaixo!
O que é criptorquidia?
4% das crianças nascidas a termo, ou 45% dos meninos prematuros, podem apresentar testículo não descido. Isso significa que ela realmente é bastante comum e encontra-se entre as malformações mais comuns em meninos recém-nascidos. Ela consiste na localização incorreta dos testículos, que permanecem na cavidade abdominal ou estão ausentes.
Ela pode afetar somente um (unilateral) ou ambos (bilateral) os testículos, dependendo do caso. Antes de entender a doença, vale a pena lembrar um pouquinho sobre a formação dos testículos em si.
Eles são formados entre a 7ª e 8ª semana de vida fetal, ainda no útero materno. As células que futuramente serão o testículo se agrupam na região abdominal, próximo da localização dos rins. Só entre o 6º e 8º mês de gestação eles começam a descida para o saco escrotal. Quando isso não acontece da maneira correta, estamos diante de um caso de criptorquidia.
Tipos de criptorquidia
É possível classifica-la de acordo com suas características, momento de surgimento, entre outros. Confira os principais tipos no consultório do urologista pediátrico:
● Com testículos palpáveis: apesar de não estarem na bolsa escrotal, os órgãos podem ser percebidos através de um exame simples de palpação;
● Com testículos não-palpáveis: o médico não pode identificar os testículos através da palpação. Nesse caso, existe suspeita de ausência;
● Recorrente: ocorre quando o paciente é diagnosticado ao nascimento e os testículos descem espontaneamente. No entanto, voltam a serem criptorquídicos no futuro;
● Secundária: é aquela que surge após procedimentos cirúrgicos, como herniorrafias ou orquidopexias.
Causas
Ainda não se sabe exatamente o que causa a não descida do testículo. Especialistas estimam que, em bebês prematuros, os processos hormonais e musculares de descida dos testículos permaneçam incompletos. Também é possível que existam fatores genéticos ligados à malformação, já que 12% a 15% dos pacientes possuem histórico familiar.
Além disso, existem chances de que fatores ambientais influenciem no desenvolvimento do feto e causem malformações.
Principais fatores de risco para malformações no testículo
Apesar das causas serem desconhecidas, os fatores de risco são bem documentados na literatura médica. Os principais deles são o nascimento prematuro e baixo peso ao nascer. Nesses casos, 70% dos meninos nascem com criptorquidia e muitos deles não precisam de tratamento, somente de acompanhamento médico.
Histórico familiar, como pai ou irmãos que nasceram com a condição, também aumenta as chances de ocorrência. 4% dos filhos de pais com testículos não descidos chegam a apresentar a malformação.
Entre os fatores ambientais que aumentam a probabilidade de desenvolver o problema estão: tabagismo materno e exposição à dietilestilbestrol.
Cura espontânea da criptorquidia
Para o alívio dos pais, não é necessário tratamento ou cirurgia na maioria dos casos. Quando os dois testículos são palpáveis, aguarda-se até 1 ano de idade para que ocorra a descida espontânea.
Nesse período, é importante manter o acompanhamento com um médico urologista pediátrico. Ele fornecerá toda a informação que os pais precisam para identificar possíveis complicações e orientará sobre cuidados para garantir a saúde da criança. Vale a pena avisar que não devem ser utilizados remédios caseiros para o tratamento, massagens ou manobras manuais, a descida dos testículos ocorre naturalmente.
Desde a década de 1970 o uso de hormônios para conseguir a descida espontânea dos testículos deixou de ser recomendada.
Complicações
É comum querer evitar a cirurgia em bebês antes de 1 ano, mas o procedimento é necessário para que não ocorra perda de células germinativas. Essas células, no futuro, formarão os espermatozoides e quanto mais tempo se esperar para realizar o procedimento cirúrgico, maiores as chances de prejuízo à taxa de fertilidade em idade adulta.
Existem outros riscos de deixar o problema muito tempo sem tratamento. O paciente pode apresentar torção testicular, quando um testículo mal posicionado roda sobre o próprio eixo, diminuindo o fluxo sanguíneo e causando dor. Trata-se de uma urgência cirúrgica que, se não tratada dentro das primeiras 4 horas após o início da dor, pode resultar em perda do testículo.
Tratamento com orquidopexia
A orquidopexia é o tratamento de escolha para pacientes com testículos não descidos a partir dos seis meses de idade. Ela consiste na cirurgia para posicionar o testículo no local correto e diminuir a probabilidade de complicações.
O procedimento cirúrgico deve acontecer por volta de 1 ano de idade. Ele pode ocorrer em conjunto com procedimentos para correção de malformações comuns em pacientes com o problema, como a hérnia inguinal.
Além de proporcionar um desenvolvimento mais saudável à criança, a realização precoce do procedimento é mais simples em crianças nessa faixa etária. Portanto, conseguimos uma cirurgia segura, com baixas taxas de complicações para o paciente.
Como ocorre a orquidopexia
O procedimento é feito com acesso por via inguinal em casos de testículos palpáveis na região inguino-escrotal ou via abdominal, se forem não palpáveis. Nessa segunda opção, a cirurgia é feita por videolaparoscopia.
A anestesia sempre é geral, realizada com auxílio de uma equipe especializada em cirurgia pediátrica para garantir a segurança do paciente. Durante o procedimento, o cirurgião corrige hérnia inguinal e outros problemas que possam ocorrer em conjunto e fixa o testículo no saco escrotal para evitar nova ocorrência da criptorquidia.
Recuperação da cirurgia
Por ser uma cirurgia de pequeno porte, é comum realizar o procedimento em sistema de Day Hospital. Nesse caso, o paciente recebe alta no mesmo dia contanto que não ocorram complicações durante a cirurgia.
O único cuidado após a cirurgia que os pais devem manter é a correta higienização do local operado. Após o período determinado, o paciente ainda deve retornar ao urologista pediátrico para nova avaliação e acompanhamento através de exames de imagem para avaliação do desenvolvimento dos testículos.
Autor dor artigo: Dr Rafael Rocha
O Dr. Rafael Rocha é Urologista Infantil e Cirurgião Pediátrico, integrante do corpo clínico do Hospital Infantil Sabara. Formado em Cirurgia Pediátrica pela Santa Casa de São Paulo – ISCMSP, pós-graduado em Urologia Pediátrica no Hospital Infantil Darcy Vargas. CRM/SP: 129.846. RQE: 65369.