Imagine o seguinte cenário: você está em uma reunião no trabalho, sobre um assunto importante, e seu chefe indica um livro, ou um artigo sobre o assunto. Depois, em outra ocasião, alguém indica um filme que também é relacionado com o seu trabalho, ou outro artigo, e ao fim do expediente, você pode até ter acabado suas tarefas do trabalho em si — mas vai precisar usar o seu tempo livre para consumir esses conteúdos paralelos, que apesar de não serem obrigatórios, vão agregar ao seu conhecimento profissional.
Ou então, você está em um restaurante com a família no fim de semana, e resolve dar “só uma olhadinha” no seu e-mail de trabalho, ou no grupo de WhatsApp. Ao abrir, vê que tem algumas mensagens e resolve responder, já que é algo rápido. Quando percebe, já se passou um bom tempo, e você acabou respondendo quase todas as mensagens, mesmo sem estar no seu horário de trabalho.
Quando acontece ocasionalmente, esse tipo de atitude é considerada normal, e é até mesmo vista com bons olhos: afinal, mostra que você é um profissional responsável com suas obrigações e também dedicado a melhorar, e em meio às diversas vagas, trilhas, empregos e oportunidades da sua vida profissional, essa atitude pode ser um grande diferencial para o sucesso da sua carreira.
Porém, muitas vezes, esse tipo de dedicação passa a se tornar uma expectativa, ou até mesmo uma obrigação, fazendo com que as suas oportunidades de realmente se desligar um pouco do trabalho diminuam cada vez mais. No mundo corporativo, isso é chamado de “hidden overwork”, ou “trabalho oculto”, em tradução livre, e é uma das maiores fontes de sobrecarga entre profissionais das mais diversas áreas e níveis.
Produtividade em excesso
Desde a infância, ouvimos falar que “tudo que é demais faz mal”, e isso não apenas é verdade, como também vale inclusive para coisas consideradas boas e/ou saudáveis.
A produtividade no trabalho é uma delas: ao ocupar um cargo, seja ele qual for, ser capaz de produzir de maneira que corresponde às expectativas da sua posição — e até mesmo superá-las — é obviamente muito importante, já que prova que você tem competência para estar naquela posição, e que também está pronto para mais oportunidades de crescimento e evolução.
Mas, seguindo a máxima do “tudo que é demais”, o excesso de produtividade pode logo se tornar um problema, especialmente quando ele ultrapassa os horários comuns de trabalho. A obrigação que sentimos de fazer e entregar cada vez mais eleva nossos níveis de estresse, cansaço, desgaste físico e mental, dificuldades para dormir e pode até mesmo evoluir para casos de burnout.
Não é hora extra
Antes de entender um pouco mais sobre a definição mais exata do trabalho oculto, é preciso esclarecer um ponto de bastante confusão sobre o assunto: apesar de semelhantes, e muitas vezes relacionados, o trabalho oculto não é a mesma coisa que “fazer horas extras”.
As horas extras são ocasiões (preferencialmente incomuns) onde você precisa ou prefere estender o seu horário de trabalho por mais algumas horas, seja para cumprir tarefas extras, compensar um dia de trabalho perdido ou onde você teve um ritmo um pouco mais lento do que o normal.
Já o trabalho oculto são tarefas que você realiza de maneira menos “óbvia”, até mesmo sem perceber, e que não necessariamente é sinal de trabalho em excesso — e sim, da obrigação que sentimos em nos mantermos sempre conectados, atentos, atualizados e produtivos, mesmo nos momentos em que deveríamos priorizar o descanso.
Por isso ele é chamado de oculto, já que muitas vezes acontece sem o conhecimento do empregador, ou sem uma compensação atrelada a ele, como saldo no banco de horas ou pagamento por essas horas extras trabalhadas.
Onde mora o problema
E quando consideramos esses fatores, fica mais fácil entender o motivo pelo qual o trabalho oculto é tão particularmente preocupante: por serem tarefas de trabalho que são feitas fora do horário normal, na maioria das vezes ele se encaixa no conceito de produtividade em excesso, que acontece devido a essa sensação de obrigação.
Mas por geralmente serem tarefas mais simplificadas, que nem sempre exigem que você trabalhe como faz todos os dias — sentado na mesa do escritório, por exemplo — ele é muito mais difícil de ser detectado e identificado como o que realmente é: uma sobrecarga de trabalho, que mesmo de maneira menos óbvia, tem bastante influência sobre os casos de estresse profissional, que por sua vez, afetam negativamente a sua saúde mental, se estendendo até mesmo para fora do trabalho.
Como evitar o trabalho oculto?
Infelizmente, o problema do trabalho oculto nem sempre tem uma solução fácil. Na maioria das vezes, ele acontece por ser uma expectativa do seu empregador, cargo ou chefe, e não realizá-lo pode acabar afetando sua imagem e a percepção do seu desempenho no trabalho.
Nesse caso, o mais indicado, claro, é encontrar uma outra colocação, onde essa expectativa não exista. Caso isso não seja possível, como na maioria das situações, uma maneira melhor de lidar com o trabalho oculto é estabelecer limites para o seu acontecimento.
Quer (ou precisa) ler e-mails em algum momento do fim de semana? Escolha um horário para isso, e limite-se a um período rigoroso, como 30 minutos ou 1 hora, e depois que esse período acabar, considere que fez o que foi possível, e deixe a tarefa de lado para ser terminada no horário normal de trabalho.
Já em ambientes de trabalho onde o diálogo é mais aberto, aprender a dizer “não” e impor limites na hora de aceitar tarefas é essencial, e é uma qualidade que, apesar de ser facilmente mal interpretada, também pode ser muito valorizada pelos chefes certos.
Evitar o trabalho oculto vai muito além do seu desempenho profissional: evitar o excesso de trabalho ajuda a manter a sua saúde mental em um patamar positivo, e faz com que as suas horas de trabalho oficiais sejam mais produtivas, bem aproveitadas e saudáveis.
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