É bastante comum que mulheres omitam aos seus cônjuges e médicos sobre dor no clitóris, por ser uma região de extrema intimidade, além de socialmente ser constrangedor. No entanto, a importância de levar isso ao médico especialista vai além da própria região vaginal, pode sinalizar disfunções em outras áreas do corpo.
Em 2022, a médica norte-americana Jill Krapf, diretora na clínica particular Center for Vulvovaginal Disorders, afirmou que suas pacientes têm retração, muitas vezes, para falar sobre a dor e coceira no clitóris:
“Pergunto a todos os meus pacientes sobre a dor clitoriana, e muitas vezes é a primeira vez que eles são questionados sobre isso”, comenta Jill Krapf. Especializada em dor sexual feminina que envolve a pélvis, vagina e vulva, esta profissional constatou que muitos dos problemas apresentados na região sinalizam problemas de outras regiões..
Muitas das condições tratadas por Krapf não apresentam sintomas externos que parecem anormais, mas internamente, há nervos danificados ou irritados que podem resultar em hipersensibilidade, excitação indesejada ou dor.“A pesquisa mais recente indica que mesmo uma hérnia de disco ou ruptura na coluna pode levar a sintomas clitoriais ou vulvares, assim como a ciatalgia (dor ciática) que desce pela perna está relacionada a problemas na coluna”, adiciona a doutora Krapf. A partir daí vamos discutir mais sobre este, que é o órgão do prazer, tão falado e abordado em diversas posições e técnicas sexuais, como a cavalgada virgem. Vamos nos aprofundar mais sobre clitóris juntos?
Novas descobertas acerca do Clitoris
Foi constatado novas pesquisas que o clitóris tem mais de 10.000 fibras nervosas – cerca de 2.000 a mais do que o relatado anteriormente em 1976 – um avanço médico importante para uma parte do corpo que muitas vezes foi negligenciada pelo campo científico.
Não só Krapf, mas outros profissionais da medicina esperam e anseiam que o clitóris entre no raio de atenção das pesquisas e que tudo isso venha a despertar as questões educacionais entre pacientes e pessoas da própria comunidade médica.
Eles também esperam que isso capacite os pacientes a procurar ajuda médica se estiverem tendo problemas como clitoris doendo ou mesmo machucado.
“Historicamente, a saúde sexual feminina tem sido subfinanciada, especialmente e substancialmente em comparação com a saúde sexual do homem, como o exemplo da disfunção erétil”, complementa Krapf.
Blair Peters, um médico cirurgião plástico especializado em cuidados de afirmação de gênero, liderou o estudo, que foi apresentado na conferência da Sociedade de Medicina Sexual da América do Norte.
Peters fala que espera que a nova informação diminua o estigma de que o clitóris não merece a mesma atenção médica que outros órgãos do corpo recebem.
Quando o clitóris não funciona adequadamente, pode haver danos à saúde física e mental de uma mulher. Estar atenta sobre clitoris sensível ou qualquer outro desconforto e buscar de pronto, atendimento especializado médico, podem ser atitudes que vão ajudar na detecção precoce, bem como prevenção de vários tipos de problemas vaginais e no aparelho urinário (como infecções).
“O fato de ter demorado até 2022 para alguém fazer esse trabalho mostra a pouca atenção que o clitóris recebeu”, fala Peters, professor assistente de cirurgia na Escola de Medicina da Oregon Health and Science University.
O clitóris de uma perspectiva interna
Peters e seus colegas concluíram o estudo coletando tecido do nervo clitoriano de sete transgêneros adultos que passaram por cirurgia genital de afirmação de gênero. Os tecidos foram tingidos e ampliados 1.000 vezes em um microscópio para que os pesquisadores pudessem contar as fibras nervosas.
Peters diz que a descoberta é importante porque muitas cirurgias ocorrem na região da virilha – como substituições de quadril, episiotomias durante o parto e procedimentos de malha pélvica – e a atenção revivida ao clitóris pode ajudar os profissionais de saúde a saber onde estão os nervos para que lesões oriundas de erros médicos sejam evitadas.
Ele diz também que, quando as terminações nervosas não são bem compreendidas de seu lugar e comportamento ao longo do tempo, se aumentam os riscos de danificá-las.
Também é esperança para Peters que estes novos achados ajudem na criação de técnicas novas nas cirurgias para reparação nervosa, e que a faloplastia (a construção cirúrgica de um pênis geralmente para pessoas “transmasculinas”) passe a ganhar um novo olhar.
A pepita de ouro ainda precisa de um médico específico
Se você tem um problema cardíaco, consulte um cardiologista; questão cerebral, um neurocientista. Mas quando se trata de clitóris, quem é especialista? Nenhum tipo de médico se especializou no órgão sexual (até então).
Urologistas, ginecologistas, cirurgiões plásticos e terapeutas sexuais tratam de possíveis problemas que podem surgir com o clitóris e as partes do corpo ao seu redor. Mas especialistas como Krapf são poucos no mundo e distantes entre si. Não obstante, o portal Saúde da Mulher aborda muitos temas relacionados ao prazer feminino, bem como a saúde sexual.
Seriamente, a anatomia clitoriana e seu funcionamento foram profundamente pesquisados em 2000 (primeiros anos). Passaram a investigar mais desta região com um olhar livre das descobertas de até então.
E em aproximadamente 2005 a urologista australiana Helen O’Connell descobriu que o clitóris é preenchido com tecidos eréteis e não eréteis que muitas vezes são escondidos em desenhos de anatomia por gordura e osso.
Clitoris machucado e sua relação com a saúde sexual
Foi em 2018 que uma pesquisa demonstrou que se mais profissionais da saúde analisassem mais meticulosamente o clitóris, conseguiriam descobrir mais disfunções de maneira precoce, onde muitas poderiam ser cuidadas e resolvidas sem intervenção cirúrgica (como infecções e/ou aderências).
Sabemos que o sexo tem vantagens incríveis para a saúde do corpo e da mente. E o clitóris é uma parte do corpo projetada especialmente para o prazer.
Randi Levinson, terapeuta de sexo, casamento e família em Los Angeles, atende pacientes que têm menos sensação ou Clitoris machucado, ou mesmo dor durante o sexo, muitas das quais deram à luz recentemente ou estão passando pela menopausa.
Segundo Levinson, as mulheres muitas vezes ficam envergonhadas quando não conseguem ter orgasmo ou têm clitoris sensivel abaixo do esperado, mas tendem a evitar procurar aconselhamento médico.
Normalizar as discussões sobre o prazer da mulher e a vasta anatomia que o sustenta pode ajudar muito alguns de seus pacientes.
“Quanto mais normalizada tornarmos a discussão e estudo do prazer feminino, mais coragem e menos retração vão ter no momento de procurar auxílio especializado quando não estiverem sentindo o devido prazer sexual”, defende Levinson.
Finalmente, a ciência mostrou que bactérias, fungos, vírus e/ou protozoários podem ter sido instalados de outros órgãos do corpo e transportados até a região vulvar. Tais infecções podem gerar consequências para o clitórios e demais órgãos sexuais.
É importante que se faça exames gerais para se compreender com profundidade a relação das disfunções no clitóris com demais problemas fora da região sexual. Esperamos ter te ajudado. Até mais!